domingo, 19 de setembro de 2010

Conclusões

"A primeira glória é a reparação dos erros.
As ocasiões fazem as revoluções.
O amor é o rei dos moços e o tirano dos velhos.
O amor é o egoísmo duplicado.
Não se perde nada em parecer mau - ganha-se tanto como em sê-lo.
Também a dor tem suas hipocrisias.
O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfaz-se - basta a simples reflexão.
Dormir é um modo interino de morrer.
O tempo é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto.
Matamos o tempo - o tempo nos enterra.
Amor repelido é amor multiplicado.
De todas as coisas humanas, a única que tem o fim em si mesma é a arte.
O destino, como os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho.
Não se ama duas vezes a mesma mulher.
A vaidade é um princípio de corrupção.
Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular.
Suporta-se com muita paciência a dor no fígado alheio.
A fortuna troca, ás vezes, os cálculos da natureza"

Machado de Assis

sábado, 11 de setembro de 2010

Expressão

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."
Fernado pessoa

" A pintura é uma poesia que vemos em vez de sentir; a poesia é uma pintura que sentimos em vez de ver".
Leonardo Da Vinci


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nuvens

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de consequências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...

Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive),
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo...

Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, alacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Uma pequena teoria

As pessoas só observam as cores do dia no começo e
no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde 
através de uma multidão de matrizes e entonações,
a cada momento que passa. Uma só hora pode consistir 
em milhares de cores diferentes.
Amarelos céreos,azuis borrifados de núvens. Esuridões enevoadas.
No meu ramo de atividade, faço questão de notalas.

(Morte, a menina que roubava livros)

domingo, 5 de setembro de 2010

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu 
Viu outra lua no mar
No sonho em que se perdeu 
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu, 
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto de céu, 
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do amr
As asas que deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subia ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
 
 Alphonsus de Guimaraens